domingo, 13 de novembro de 2016

20 de novembro: Todo dia é Dia da Consciência Negra

18.11.2016

Elini Oliveira e Daniel dos Santos

"Estamos chegando dos trens dos subúrbios/ estamos chegando nos loucos pingentes/com a vida entre os dentes chegamos/ viemos cantar." Trecho de uma canção do musical "Missa dos Quilombos", de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, musicada por Milton Nascimento e lançado em 1982. Cada letra foi escrita com objetivo de se retratar com os povos negros, herdeiros dos negros escravos da época do império. 

Em 20 de novembro, é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. A data foi escolhida justamente por ter sido o momento em que Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra ao regime escravocrata, foi assassinado, em 1695. A ocasião é uma oportunidade para refletir sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e sobre a questão da igualdade racial. Além da festa e da lembrança histórica, a data foi idealizada para marcar e abrir o debate sobre as políticas de ações afirmativas para o acesso dos negros ao que o estado democrático de direito deve oferecer a todo e qualquer cidadão: direito à educação, à saúde e à justiça social.

Da periferia para  a universidade

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, a população que se declara como preta ou parda cresceu 1% entre a parcela mais rica da população brasileira - com renda mensal acima de R$ 11,6 mil. Mesmo assim, na Síntese de Indicadores Sociais, eles representam apenas 17,4% do total da parcela mais rica do país. Mais de 79% é de pessoas brancas. E essa foi uma das dificuldades que a estudante de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Dandara Maria, relata ter passado antes mesmo de entrar na universidade.  "No ensino médio, me deparei com a falta de ensino público de qualidade, o que dificulta o acesso à universidade. Por isso, acho importante políticas de ações afirmativas, porque isso dá equidade, oportunidade de isenção dos negros nesses espaços que majoritariamente são ocupados por brancos", conta.

O debate étnico deve ser feito não só na semana da consciência negra. É indispensável que ele seja  discutido no âmbito social, institucional, sobretudo na universidade. Dandara diz que é necessário também criar formas de permanência dos estudantes na universidade. "Precisamos entender todo o contexto social do aluno, as limitações, pois sabemos que muitos alunos negros são de renda baixa, e precisam conciliar muitas vezes o trabalho com a faculdade", ressaltou.

Estudante de Jornalismo da UFT, Dandara Maria (Foto: Elini Oliveira)


Políticas afirmativas 

A UFT possui atualmente 18.834  alunos matriculados. De acordo com a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), desse número, 11.219 são declarados pretos (2.399) e pardos (8.820), o que equivale a 59% do corpo discente. 

O estudante do curso de Teatro, Fernando Barbosa,  diz que a universidade deveria abrir suas portas para a população negra e garantir a sua permanência. "A universidade ainda é branca, feita para brancos e ocupada por brancos. Não precisa se esforçar muito pra perceber a ausência de negros dentro dela. Porém, a lei de cotas por mais que tardia e lenta, tem mudado essa realidade", ressaltou.

A UFT reserva suas vagas para alunos oriundos de escola pública seguindo  a Lei 12.711/2012 (Entenda a Lei de Cotas). Além disso, a Instituição disponibiliza 5% das vagas para quilombolas e 5% para indígenas. Saiba mais sobre cotas e políticas adotadas pela UFT contra a evasão de discentes da universidade. Acesse aqui a matéria.


Desafios atuais

Para Noeci Carvalho Messias, doutora em História e especialista em cultura afro-brasileira, a universidade tem um papel fundamental na efetivação dos direitos. "Um dos maiores desafios é o combate ao racismo. Nessa perspectiva, a  efetivação da Lei 10.639/2003  tem sido um desafio. Um dos fatores que dificulta a efetivação dessa lei é exatamente o imaginário brasileiro que acredita que no nosso país não existe racismo, que não temos desigualdades raciais", pontua.

Para o professor de Geografia do Câmpus de Porto Nacional, Rosemberg Ferracini, ainda faltam políticas afirmativas. "É preciso também pensarmos em uma valorização dos pontos político, econômico e cultural. Falta uma construção da identidade negra. Essa construção passa pelo campo da educação", disse.

"Estamos chegando do chão dos Quilombos/ estamos chegando do som dos tambores/ dos Novos Palmares só somos/ viemos lutar". A Missa dos Quilombos foi celebrada pela primeira vez em 22 de novembro de 1981, para um público de sete mil pessoas, na praça em frente à Igreja do Carmo em Recife-PE.  Local representativo para o tema, pois foi nele que em 1695, a cabeça do líder quilombola Zumbi dos Palmares foi exposta no alto de uma estaca.

Performance realizada em 2015, no Anfiteatro da UFT, em lembrança ao Dia da Consciência Negra. (Foto Arquivo pessoal/Deny Oliver)

Transcrito de http://ww2.uft.edu.br/ultimas-noticias/17106-20-de-novembro-dia-da-consciencia-negra

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